BIOCARVÃO DE BAMBU PARA TURBINAR NOSSA AGRICULTURA

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Hans J. Kleine

Publicação original pela BambuSC

Blog da BambuSC

O que é biocarvão?

Biocarvão, ou biochar em inglês, é um novo produto desenvolvido nesta última década, a partir do velho e conhecido carvão vegetal. Ele tem elevado valor agregado, bem ao contrário do carvão usado para assar um churrasco, embora quimicamente se trate do mesmo produto. A diferença é que o biocarvão é moído e a sua aplicação se dá no campo da agricultura, como material a ser misturado no solo, com a nobre finalidade de aumentar as colheitas de alimentos, por exemplo, e reduzir o consumo de fertilizantes. Ao mesmo tempo ele reduz as emissões dos gases do efeito estufa, pelo fato de estocar carbono no solo por um longo período de tempo. Essa dupla vantagem econômica e ambiental, mais o fato de se tratar de uma aplicação nova no mercado o valorizam bastante neste momento.

Como surgiu a tecnologia do biocarvão?

Ele nasceu com os recentes estudos arqueológicos das chamadas “terras pretas de índio”, que são manchas de solo muito fértil encontradas no subsolo de diversas regiões da Amazônia. Ficou comprovado que elas foram produzidas há muitos séculos, ainda antes da vinda dos europeus e a sua cor preta se deve a partículas de carvão vegetal contido no solo.

O carvão geralmente tem um teor de carbono próximo a 90% e por isso ele é praticamente inerte, isto é, não reage e nem se decompõe facilmente, permanecendo no solo por tempo muito longo e indefinido.

Ele é muito poroso e tem diversas propriedades interessantes, como reter a umidade e outras substâncias em geral (adubos, agrotóxicos, etc.), evitando sua lixiviação e reduzindo o consumo destes produtos, além de servir de habitat para os microrganismos e fungos do solo. Estes interagem com as raízes das plantas, aumentando a absorção de nutrientes.

Não se sabe exatamente se os povos indígenas daquela época produziram estas manchas de terra preta intencionalmente, mas é provável que eles tenham descoberto esta técnica de carbonizar madeiras e misturar o carvão no solo para melhorar as suas colheitas agrícolas. 

Como é produzido o biocarvão?

Diversos produtos são oferecidos no mercado com o nome de biocarvão ou biochar, embora tenham características diferentes. O que todos têm em comum é o uso de alguma matéria-prima lenhosa (madeira, bambu, resíduo agrícola ou florestal) que alimenta um equipamento de carbonização (forno, retorta, etc.), que produz o carvão vegetal e este depois é moído. Em muitos casos o processo produtivo se encerra neste ponto, mas há também biocarvão aditivado com fertilizantes ou ainda biocarvão que é submetido a um processo adicional de ativação de microrganismos e fungos. Este último consiste em misturar o carvão moído com terra úmida e, após um período de contato entre ambos, os poros do carvão se enchem de microrganismos e fungos, porque encontram ali um ambiente favorável para se desenvolver. Ao final a terra é separada por peneiramento e o biocarvão é embalado.

*Dois modelos de fornos para a produção de biocarvão de bambus. Fotos: João Veiga (Takuatec)

Por que motivo o biocarvão de bambu tem mais valor ?

A principal característica de qualidade do biocarvão é o tamanho dos poros nos quais os microrganismos podem se alojar. Existem métodos analíticos que permitem determinar quantitativamente o volume total destes poros e também a sua superfície interna. Comparando os diversos tipos de matéria-prima lenhosa, o carvão de bambu tem a maior superfície interna dos poros, chegando a ser de 3 a 4 vezes maior do que os de madeira. E isso vale para as mais diversas espécies de bambu lenhoso.

Biocarvão moído de bambu. Foto: Angelo Pedrotti (Gigantus)

Como o bambu pode turbinar a agricultura brasileira ?

O Brasil já é um dos principais países exportadores de produtos agrícolas e florestais e seguramente tem as melhores condições de ampliar a sua capacidade produtiva, devido ao enorme estoque de terras degradadas, que poderão ser recuperadas para a atividade agrícola e florestal. Porém, um dos maiores entraves para a ampliação da capacidade produtiva é a nossa grande dependência externa no fornecimento de fertilizantes, da ordem de 80% da demanda de mercado. O uso generalizado do biocarvão poderia aumentar a nossa produtividade agrícola e florestal em torno de uns 20 a 30% e com isso reduzir significativamente o uso de fertilizantes. O ganho pode ser ainda maior com o uso de biocarvão de bambu, ao invés do biocarvão de madeira ou outro material lenhoso. Não apenas porque o bambu cresce mais rápido do que uma árvore, mas principalmente porque o biocarvão de bambu é muito mais eficiente do que o biocarvão de madeira, conforme já explicado acima.

Por onde começar ?

A primeira coisa a ser feita é divulgar o conceito de que vale a pena cultivar bambu, porque existe para ele, entre tantos outros usos, uma demanda garantida como insumo essencial da agricultura, na forma de biocarvão.

Hoje poucos no país sabem sequer que é possível produzir um excelente carvão vegetal de bambu, mas os que o conhecem, quase sempre veem ele apenas como um combustível para assar churrasco. E o uso do biocarvão na agricultura ainda é amplamente desconhecido do público em geral.

Essa nova e promissora perspectiva para o cultivo do bambu precisa ser divulgada simultaneamente nos meios acadêmicos, em órgãos de governo e nas entidades empresariais, de modo a animar possíveis investidores e empreendedores de pequeno, médio e grande porte em todas as regiões aptas ao cultivo do bambu. 

Produtos nacionais à base de biocarvão de bambus. Carvão ativado de bambu da Gigantus (RS), Biochar de Bambu da Takuatec (PR) e sachê de biocarvão de bambu da Fazenda da Barra (GO). Clique nos links para acessar o site das lojas.

Em quais regiões pode-se cultivar bambu?

Quase todas as regiões do país têm solo e clima adequados para o cultivo do bambu, com exceção da Região do Semiárido no Nordeste e na Região do Pantanal no Centro – Oeste, já que suas raízes superficiais não toleram estiagens prolongadas, nem terrenos alagados por longos períodos. A criação de cooperativas de produtores de bambu, ou mesmo de núcleos apenas informais, confere mais consistência, visibilidade e agilidade às atividades de cada participante e às relações comerciais com empresas industriais, que vão receber a biomassa em média ou larga escala, para produzir o biocarvão ou outros produtos, como conservas de brotos, móveis e artesanato, material de construção, cavacos ou pellets para energia, etc.

Quais espécies de bambu são adequadas para biocarvão?

Em princípio qualquer espécie de bambu lenhoso é adequada para produzir carvão ou biocarvão, mas aquelas que têm colmos de maior diâmetro e espessura devem receber preferência, porque oferecem maior porosidade e rendimento. O mesmo critério se aplica ao caso de uso compartilhado dos colmos entre dois ou mais usos diferentes, de modo que a parte basal dos colmos deveria ser reservada para o biocarvão.

Elaboração de texto: Hans J. Kleine;
Revisão: Marcos Marques e Thiago Ornellas;
Imagens: João Veiga, Marcos Marques, Angelo Pedrotti e Stephan Posch
Diagramação e edição de imagens: Thiago Ornellas.

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